Esse relato é um dos mais bonitos que já li, acredito que vale a pena
ler para aquelas meninas e mulheres que esperam um grande amor, mas que
as vezes se decepcionam durante esse longo e infinito caminho até
chegar o momento certo com a pessoa certa preparada por Deus !
Eu li e me emocionei nesse texto e espero que sejam de bençãos para vocês !
Um grande Abraço
Regiane
- Alô? João?
- Maria? Olá, Maria! Tudo bem?
- Tudo, João. E aí, como está o coração???
- Ah, Maria, não começa de novo, por favor…
- Tá legal, João. Não liguei pra isso não. Quero te fazer um convite. Posso?
- Manda bala.
- É que o Sammy Tippit vai pregar no ginásio da prefeitura, e vai
sair uma kombi de cada igreja aqui da baixada, eu queria te convidar pra
ir comigo. É grátis, vai ser no domingo à tarde, e vamos ter boa
música e uma boa pregação. Topa?
- Topo.
- Como?!? Você topa?
- Topo, poxa! Era pra não topar?
- Não, claro que era pra topar! É que eu fiquei superfeliz!
- Tá. Que horas tenho que chegar? ”Tô à fim” de ir à noite, no culto, também.
- Nossa, cara, que legal! Olha, chega às 13:30, a perua vai
estacionar às 14. Assim a gente não perde a condução, e ainda conversa
um pouquinho. Nossa, estou superfeliz, João!
- Tá legal. Vou no culto da noite também. Só que agora tenho que desligar, que o chefe tá chegando. Beijinho. Tchau.
Maria amava a João. Eles namoraram por alguns meses, dois anos
antes. Mas João voltara para a velha namorada e Maria ficara magoada,
triste, mas não desesperançada. Sempre que podia, enviava
telemensagens, e-mails, cartas, recadinhos. João nunca respondia. Ou,
quando o fazia, inventava as desculpas mais esfarrapadas. Mas Maria era
persistente, e continuava cheia de esperanças.
Muito mais agora, que João prometera ir à cruzada! Sammy Tippit
envolvera todas as igrejas da região nessa cruzada. Cada congregação
ganhara uma perua para buscar as pessoas. O ginásio comportava umas
duas mil pessoas; assim, conseguiria encher todas as arquibancadas.
Ainda era quinta-feira. Maria não se agüentava de tanta felicidade!
Até o domingo ela fez de tudo, para demonstrar a sua gratidão ao
Senhor, e implorar-lhe a bênção: jejuou, orou por horas, leu muitos
capítulos da bíblia, evangelizou, enfim, fez muito mais do que estava
acostumada. No seu “diário”, decorou cada um desses dias com um
arabesco diferente, colorido e trabalhado. Ela estava tão ansiosa, que
perdera até a fome. Estava tão feliz, que cumprimentava a tudo pelo
caminho: “Bom dia, poste!”, “Bom dia, gato!”, “Bom dia, hidrante!”. Ah,
como é linda a paixão!
Já era sábado. Gastou um bom dinheiro no cabeleireiro, produzindo-se
de forma brilhante. Pedira à mãe para apertar o vestido que comprara
para o casamento da prima, e emprestara os sapatos de veludo colorido de
Soraia, colega de escola. Ela teria, enfim, um encontro! Sim, João
iria à cruzada!
Chega o domingo. O relógio marcava 13 horas, e Maria já se
encontrava na porta da igreja. O sol brilhava forte, Maria estava
debaixo da sombrinha, sem incomodar-se. O zelador ainda não abrira o
templo. 13:30: começaram a chegar as meninas da sua turma de mocidade.
Também os adolescentes, seus alunos, que iriam cantar no “grande coral
da baixada”. Ela estava orgulhosa por ver os meninos integrados em
atividades musicais de louvor tão clássicas e solenes.
Faltavam 10 minutos para as 2 da tarde, e a perua chegara. Maria
agora suava frio. João não aparecia na rua, nem de um lado, nem do
outro. ”Será que ele esqueceu? Oh, meu Deus, estou tão ansiosa!” Às
duas em ponto todos estavam presentes, menos o João. Maria inventou,
então uma desculpa, dizendo ter esquecido um prendedor de cabelos no
banheiro feminino, e pediu para entrar. Pois sim. Ela queria ganhar
tempo, para que o seu amor chegasse.
Mas às duas e dez o motorista da perua ameaçou deixá-la, caso não
entrasse. Com um grande bico, carrancuda, entrou no veículo, rumo ao
ginásio. E João não veio.
Chegaram no ginásio. Gente de toda a parte, de todos os lados,
pessoas felizes, com faixas das igrejas, com camisetas coloridas, fitas
nos cabelos, bandeirolas na mão, cada um fazendo a sua própria campanha.
Maria conduziu o seu grupo para as escadas que davam de frente ao
palco onde o coral e o Sammy estariam. Sentaram-se e conversavam muito.
Mas Maria observava os portões. ”Será que o meu amor perdeu-se, será
que ele vem de ônibus? Será que ele vai me surpreeender? Oh, Deus, por
favor, não me deixe sozinha…”
Estava ventando muito nas escadas onde estavam. Marcos e as garotas
pediram a ela se poderiam sentar-se lá do outro lado, pois não estavam
se agradando do vento. Maria disse que sim. Perguntaram-lhe se não
iria com eles, e ela disse que já estava bem acomodada ali. E eles
foram embora, deixando-a sozinha. ”Poxa, que amigos da onça eu tenho!
Ninguém quis ficar comigo”.
Começou o culto. O coral cantava maravilhosamente. Alguns solos,
avisos, e Sammy Tippit pregou a Palavra de Deus, sob a interpretação
maravilhosa do Pr. Tércio, da Primeira Igreja Batista de Maceió.
Depois do apelo evangelístico, dezenas e dezenas de pessoas desceram
das escadas, em lágrimas, entregando-se a Jesus.
Maria ficara feliz, com certeza. Mas o seu coração estava arrasado.
O João não veio. E ela queria que essa tarde fosse uma tarde completa:
ela e o João. Ela queria estar ao lado de quem amava. Seu coração
pulsava forte por João, mesmo que dois anos os separassem.
Assim que Sammy orou pelos decididos, o povo foi se levantando para
ir embora, pegar a condução. Mas o coral ainda cantava. Maria ficou
até o fim. Maria ouviu parte por parte. Seus garotos estavam cantando,
ela fez questão de prestigiá-los. Quando terminaram, ela levantou-se e
aplaudiu efusivamente a apresentação, e desatou a chorar. E chorava
copiosamente. Seu coração doía. Ela já não sabia se chorava de alegria
pelas conversões, ou pelo gozo de ver seus meninos cantando
uniformizados, ou se lamentava a ausência de João. Olhou à sua volta.
Não sobrara ninguém! Ela estava absolutamente sozinha. A única que
ficara sentada na arquibancada!
Maria chorou, e ninguém a consolou.
- “Senhor, por que comigo? O que foi que eu te fiz? A Gláucia, a
Cíntia, a Beth, a Zenaide, todas são felizes, estão namorando, e não
sofreram assim! Elas me pressionam, Senhor, dizem que não sou normal!
Onde está o João, Senhor? Onde estão os meus amigos? Onde está a
minha felicidade?”
Ah, sim. A dor que Maria sentia era muito grande. Não era manha
não. Nos seus 21 anos, Maria era virgem. Guardara-se para agradar ao
seu Criador, honrando ao Senhor Jesus. Maria era trabalhadora, desde os
14 anos nunca deixara de exercer alguma função, e agora era secretária
numa boa empresa. Era a primogênita da família, uma filha excelente.
Seu quarto era um brinco, seus pais muito a amavam. E, na igreja, um
exemplo: recepcionista de visitantes, professora dos adolescentes,
cantava solos, dava cursos de artesanato e participava da sociedade de
moças. Sua beleza era inconfundível: uma pinta bem debaixo da orelha
direita exercia um charme especial. Quando sorria, lindas covinhas se
abriam, e os seus loiros cabelos brilhavam mais ainda, combinando com
aqueles olhos de um azul claríssimo! Linda, trabalhadora, inteligente,
amada, Maria não queria outro homem, somente o João, seu primeiro e
grande amor. Maria sentia-se só.
Quantos de nós não somos como Maria, detentores de um vazio enorme
dentro do coração, frustrados com as coisas que não acontecem, ou fartos
de outras que teimam em acontecer! Quantos de nós ficamos sentados,
sem um amigo verdadeiro do nosso lado! Ninguém conhece as profundezas
de nossos corações!
Ainda nas escadas do ginásio, Maria orou com a bíblia no colo:
“Senhor, fala comigo! Eu não agüento mais! Senhor, eu preciso ouvir a tua voz!”
Então ela fez algo incomum em sua formação bíblica. Resolveu abrir a
sua bíblia aleatoriamente. Sua bíblia estava toda marcada, grifada,
sublinhada, com canetas de todas as cores. Então, ao abri-la,
deparou-se com um versículo saltando da página, como se dissesse “me
leia, por favor!”. Ei-lo:
“Pois eu bem sei os planos que estou projetando para vós, diz o
Senhor; planos de paz, e não de mal, para vos dar um futuro e uma
esperança.
O texto era Jeremias 29.11. Maria leu, releu, leu novamente, e orou:
“Senhor, se és tu quem falas comigo, então mostra-me que planos são
estes! Que futuro é este! Que esperança é esta! Sinto-me sozinha,
sinto-me abandonada, indesejada! Senhor, eu preciso saber quais são os
teus planos para mim! ”
Maria foi embora na perua. Chegando na igreja, foi ao banheiro,
lavou seu rosto, arrumou-se um pouco e foi ao seu lugar especial, no
quarto banco à esquerda, próximo do ventilador.
Com o coração pesado, Maria sentia vontade de estar invisível, de não
ser notada, de ser só ela e Deus, naquele momento. O pastor solicitava
os cânticos, Maria só ouvia as canções, acompanhava com o pensamento.
Mas, por fora, apenas lágrimas copiosas rolavam de suas faces. João
não viera ao culto também. Não, ela nem olhava para a porta do templo.
De que adiantaria?
Maria chorava. Enquanto o pastor pregava, Maria estava à quilômetros
de distância, sentindo o rosto a queimar, o peito a doer, o corpo a
moer. Duas senhoras, sentadas próximas, lhe perguntaram: “Maria, o que
há? Você está bem? Está sentindo dores? Quer que tragamos água, ou a
acompanhamos até o banheiro?” Gentilmente Maria desculpou-se, dizendo:
“Não, irmãs. Eu estou em comunhão com Deus”. As irmãs, imediatamente a
deixaram em paz. É como se estivessem tocando em solo sagrado. As
lágrimas derramadas na presença de Deus, não devem ser represadas.
Ah, quando o peso é grande demais, quando a dor é forte demais,
quando o abandono é longo demais, quando a frustração é profunda demais,
sentimo-nos como Maria! O rosto nos queima, as canções soam longe, a
pregação nos escapa, o mundo muda de ritmo, parece que tudo custa a
passar! Estar com o Senhor é o melhor lugar, em tempos de perturbação!
Maria dizia em seu íntimo:
“Senhor, que planos tens para mim? Que esperança me dás, se as
coisas que mais quero não consigo ter? Aonde está o meu João? Aonde
está o respeito das minhas amigas? Eu sou diferente, Senhor! Todas têm
namorados, todas estão quase se casando, e eu estou aqui, sozinha,
chorando por um homem que não me ama! Fala comigo, Senhor!”
O culto terminara. O pastor dera a bênção apostólica e fora à porta,
despedir os membros. Maria, que era uma das primeiras a
confraternizar-se, ficou sentada. Suas pernas pesavam, ela estava
fraca, sentia-se mal, queria morrer. ”Fala-me, Senhor!”
Depois do tumulto do instante inicial, o corredor foi se tornando
mais livre, e as crianças corriam de um lado para o outro. Julinho, um
garotinho espoleta, correndo por todos os lados, tropeçou numa bíblia,
pegou-a correndo, deu-a aberta à Maria, e disse: “Tó, tia, tô indo.
Tchau”.
Maria tomou a bíblia e, antes de fechá-la e colocá-la no encosto do
banco, viu acesos alguns versículos grifados, e decidiu lê-los antes.
Ei-los:
Não digo isto por causa de necessidade, porque já aprendi a contentar-me com as circunstâncias em que me encontre.
Sei
passar falta, e sei também ter abundância; em toda maneira e em todas
as coisas estou experimentado, tanto em ter fartura, como em passar
fome; tanto em ter abundância, como em padecer necessidade.
Posso todas as coisas naquele que me fortalece.
Então ela pensou:
“Meu Deus! Paulo dava graças mesmo padecendo necessidades! Paulo
passava fome também! Era isso que ele queria dizer, quando falava POSSO
TODAS AS COISAS NAQUELE QUE ME FORTALECE!”
Foi como o sol a nascer no horizonte da vida de Maria. O Espírito
Santo mostrara-lhe algo que lhe era encoberto: “ANTES DE PENSAR NAQUILO
QUE NÃO SE TEM, AGRADEÇA PELAS COISAS QUE TEM”. Sim, era disso que ela
precisava! Mas, como tirar a dor do coração? Como esquecer do João, ou
do opróbrio?
Maria ajoelhou-se, tomou as mãos e fez um gesto, como a colocar sobre o banco um pacote. E disse:
“Senhor, eu não sou capaz de agradecer pela necessidade. Eu não sou
capaz de gostar do teu plano para a minha vida. Mas EM CRISTO, que me
fortalece, eu serei capaz. Capacita-me, ó, Pai! Agora, Senhor! Dá-me
um coração igual ao teu, meu Mestre!”
A dor não saiu rapidamente, mas Maria levantou-se dali decidida.
Ela decidiu não ligar mais para o João. Se alguém estava perdendo
nessa história, esse alguém era ele e não ela. Portanto, se ele não
dava valor, então era porque o Senhor não o havia designado como
companheiro para ela.
E, sobre esse assunto, Maria decidiu pensar o menos possível. Disse
ela: “Se eu pensar no quanto sou infeliz sozinha, os meus problemas não
melhorarão. E, se eu pensar que Jesus está comigo, não vou piorar.
Então eu escolho não pensar mais na solidão, e entregá-la nas mãos de
Deus”.
Ela decidiu ignorar o opróbrio das amigas. Ela explicou a elas que,
se elas estavam namorando e iam se casar em breve, que agradecessem ao
Senhor por isso, mas que não quisessem obrigá-la a ter a mesma coisa,
pois, em sua vida, os planos de Deus eram outros, e isto tinha que ser
respeitado. Suas amigas entenderam, e não forçaram mais nenhuma
situação embaraçosa.
Sua fisionomia já não estava abatida. Pelo contrário, Maria agora
estava mais simpática que nunca! Lecionava com mais amor e vigor, aos
seus adolescentes; cantava com gratidão ao Senhor; recebia os visitantes
com grande simpatia; enfim, tudo ficou melhor. Ela dizia:
“EM TUDO DOU GRAÇAS, MESMO PELAS COISAS QUE NÃO GOSTO. DEUS TEM
PLANOS PARA MIM, PLANOS DE PAZ, PLANOS DE VIDA, PLANOS DE ESPERANÇA.
VOU CONFIAR!”
E Maria tornou-se feliz.
Dias atrás, soube que casou-se! Sim, um jovem garboso e elegante
(garboso? essa palavra é arcaica; hoje se diz “saradão”…), muito
crente, gentil e responsável, atravessou o seu caminho quando ela menos
esperava. Os dois se gostaram tanto, se entenderam tão bem, se atraíram
tanto, que casaram-se, numa festa de fazer cair o queixo. O primeiro
filho chama-se JEREMIAS, e o PAULO está prestes a nascer. Que coisa!
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